Eu era cotado como promessa, assim como o Filipinho Toledo". Edgard Groggia teve um início de carreira espetacular na adolescência, mas viu os seus planos mudarem quando perdeu seu principal patrocinador aos 18 anos. Na época, o paulista pensou em desistir e em virar profissional de TI, até que a vida mostrou que o caminho dele era mesmo dentro da água. Hoje em dia, aos 28 anos, Ed vive o melhor ano de sua carreira. Conquistou uma vaga pela primeira vez para a elite da WSL, Circuito Mundial de Surfe, e é o atual líder do ranking do Dream Tour, campeonato brasileiro da modalidade.
Edgard se prepara para terminar o ano com mais uma conquista inédita na carreira. A partir desta terça-feira, o paulista vai competir na quarta e última etapa do Dream Tour na praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, até o dia 2 de dezembro. Líder do ranking com vantagem de 400 pontos para o segundo colocado, Ed foi campeão da primeira etapa em Porto de Galinhas e garantiu o primeiro lugar do brasileiro durante toda a temporada. Agora, o surfista busca o seu primeiro título do Dream Tour.
- Estou feliz de estar liderando o ranking do Dream Tour no ano inteiro, o nível é muito alto. É um feito grande, porque nos outros anos tiveram muitas alterações do primeiro lugar. Vai ser uma grande guerra nessa última etapa. Vou dar o meu melhor e se eu for merecedor de ser campeão, vai acontecer. Se não for, não tem problema. Eu torço muito para os outros meninos que estão ali disputado o título. Todos merecem. Claro que seria uma honra de ser campeão do Dream Tour, um campeonato que me ajudou muito nesses anos. Eu já fui vice-campeão. Quero muito e me sinto pronto para isso. Eu vou dar o meu melhor - disse Edgard Groggia.
A trajetória de Edgard no esporte certamente não foi a mesma que ele pensava quando ainda era amador. Tratado como promessa, o surfista de Guarujá esperava um caminho mais rápido para a elite do Circuito Mundial, mas a outra estrada no caminho - um pouco mais longa - trouxe maturidade e sabedoria de que os anos de trabalho duro geram uma grande recompensa. O lugar de Ed é em cima de uma prancha, e ele descobriu isso bem cedo na vida.
- Tudo começou pelo meu pai. Meu pai é paulista, nascido em São Paulo, em Guarulhos. Ele descia para a baixada santista para pegar umas ondas, na Praia Grande. Ele era fanático pelo surfe, ia todo final de semana. Já tinha isso dentro dele, e eu tive alguns problemas de saúde quando eu nasci. Eu vivia no hospital. Com 1 ou 2 anos, o médico falou que eu tinha que ir para o litoral, porque eu tinha problemas respiratórios e ia me ajudar muito o contato com o mar. O ar de São Paulo é bem seco, aí no litoral era melhor para mim. Acabou que eu fui. Aprendi a surfar com 3 anos na Praia dos Pescadores. O surfe realmente me salvou. Ali tive meu primeiro contato e com 6 anos eu ganhei meu primeiro troféu - revelou Edgard.
O talento já ficou claro para a família desde as primeiras subidas na prancha. E foi em Guarujá, em São Paulo, que o surfista se desenvolveu no esporte e ganhou as suas principais competições na época. Aos 8 anos, conseguiu um grande patrocínio de uma marca e viu sua carreira decolar. Enquanto era amador, tudo estava indo bem, ganhava muitos títulos e tinha o reconhecimento de talvez ser a próxima estrela do surfe. Mas com o fim da parceria com a marca aos 18 anos, o jovem paulista começou a enfrentar os desafios de uma vida adulta.
- Foi uma fase da minha carreira bem difícil ali e eu ainda tinha um sonho de voltar para o cenário do surfe. Eu fui patrocinado dos meus 8 aos 18. Depois disso, eu saí da parceria e era a parte de entrar no profissional. Eu tinha uma carreira muito promissora. Eu era cotado como promessa, assim como o Filipinho Toledo. Tinha sido campeão de tudo. Então eu era uma das promessas para fazer acontecer e infelizmente não aconteceu. Eu saí da empresa. Essa transição entre o amador e profissional requer uma grana, né. Coisas aconteceram ali financeiramente e ficou bem difícil de competir. Não tinha campeonato, não tinha o Dream Tour que tem hoje.
Sem patrocínio, Edgard se viu perdido e sem inspiração para continuar a batalhar no esporte. Como plano B, pensou em abandonar o surfe e tentar uma oportunidade de emprego em TI, área de Tecnologia da Informação.
- Com 18 eu estava um pouco perdido. Eu não vim de uma família com uma condição financeira que pudesse fazer acontecer e isso foi dificultando as coisas. Nessa fase foi bem difícil, eu pensei em desistir. Em estudar e trabalhar. Eu tinha feito umas entrevistas e sorte que uma pessoa me negou em um trabalho. Eu sempre quis fazer TI, sempre fui bom com tecnologia. Fui fazer uma entrevista e o cara sabia que eu surfava, me conhecia do Guarujá. Aí ele falou que não ia acabar com meus sonhos e meio que não aceitou por conta disso. Ele me disse para acreditar e vai dar certo. Aí cheguei em casa e pensei que nada estava dando certo. Aquela frustração. Deus abençoou e colocou pessoas certas no meu caminho. Encontrei duas pessoas que acreditaram em mim e trabalharam forte junto com minha família. Eu treinei muito mesmo e aconteceu. Pessoas apostaram em mim financeiramente e os frutos aparecerem - contou Edgard.
Depois de idas e vindas no esporte, Edgard entrou de cabeça dentro d'água. Juntou um time de pessoas que o apoiaram, deu o máximo nos treinos e nas competições e chegou em seu melhor ano da carreira em 2024. Terminou o Challenger Series da WSL em nono lugar e garantiu vaga para a elite do surfe mundial na próxima temporada ao lado de Gabriel Medina e John John Florence.
- É um sonho realizado. E não é um sonho só meu. É um sonho da minha família, do meu treinador, de toda a equipe. Quantos caras ao redor do mundo que eram promessa e não entraram? Eu consegui. Isso me deixa muito feliz fazer parte da elite do surfe. Eu fico feliz de ter realizado esse sonho de criança. Todo dia cai a ficha de uma maneira diferente. Me colocaram em um grupo com John John e Gabriel Meidna, surfistas que fui fã a vida toda. Foi um ano que mais me aceitei e coloquei na cabeça que iria fazer o que posso. Se não desse certo, não teria problema, eu ia tentar de novo. E no fim das contas, funcionou. Só vai cair a ficha mesmo quando eu colocar a lycra em Pipeline e entrar na água - comemorou Edgard Groggia.
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