Ser o cara que traz energia ao time. Essa é a meta desse brasileiro de 2,07m de altura. Depois de uma passagem de 20 dias pelo Memphis Grizzlies na temporada passada, João Marcello Cardoso Pereira, o Mãozinha, assinou um novo contrato com a equipe de Marcus Smart e Ja Morant. No vínculo atual, chamado de "two-way contract" (contrato de duas vias), o ala-pivô de 24 anos vai atuar na G-League com a possibilidade de ser aproveitado na equipe principal ao longo da NBA 2024/25.
Já ambientado aos Grizzlies, Mãozinha revelou que foi bem acolhido pelos astros do time. Sonhando repetir o sucesso de brasileiros como Tiago Splitter, Leandrinho e Nenê, ele sabe que terá de se doar bastante para atingir o objetivo.
- Meu objetivo é ser um dos brasileiros que os caras olham e se espelham. Como Varejão, Thiago Splitter, Leandrinho, Raulzinho, Nenê.. Aprendi que na NBA o importante é cada um cumprir o seu papel e é isso o que vou fazer. Lógico que uns têm um papel maior, os super estrelas têm uma responsabilidade maior e o meu papel no momento é ser esse cara que traz energia. Estou treinando bastante, me esforçando bastante, defendendo, pegando rebotes, ajudando todo mundo e atacando também. Eu acredito que tendo esse papel eu posso ter sucesso no Memphis Grizzlies.
Em conversa com o ge direto de Memphis, Mãozinha falou também sobre seleção brasileira e o sonho de disputar pelo menos quatro Olimpíadas. Integrante da equipe que representou o Brasil em Paris, ele acredita que o grupo comandado por Aleksandar Petrovic merecia ir mais longe - o time caiu nas quartas de final para os Estados Unidos.
- Acredito que, se a gente tivesse ido melhor na fase de grupos, nós poderíamos ter ido mais longe. Agora a minha expectativa é grande para a próxima Olimpíada, espero que o Brasil esteja fazendo parte e que eu esteja fazendo parte também. E eu vou sempre lutar pela medalha de ouro, essa é a minha mentalidade - destacou.
Ge: Como é a sua relação com o elenco do Memphis? Já deu para se entrosar com a galera e com as principais estrelas?
Memphis: O elenco é muito legal, é um grupo, uma família. De fora a gente não vê muito bem, só vê o pessoal jogando e não entende como é a interação. Quando eu voltei, todos vieram me cumprimentar e falar: “Que bom que você está de volta.” Quando encontrei o Marcus Smart, ele brincou comigo e a gente já resenhou. O próprio Ja Morant é um cara que lidera muito o time, tem uma voz muito alta. Eu diria que fui muito bem acolhido, tanto pelos jogadores como fisioterapeuta, roupeiro, funcionário... A família me acolheu muito bem, apesar de eu ser um dos mais novos, todos me acolheram muito bem.
Como foi a experiência na equipe na temporada passada?
Foi bem legal. Eu estava bem surpreso. Eu lembro que, quando eles fizeram a oferta, eu não tinha ideia, não sabia como funcionava um contrato de 10 dias. Se eu ia ficar realmente com eles, se eu ia ser efetivado ao final das contas ou não... Acabou que não foram só 10 dias, eles estenderam para 20. Foi muito legal de ter tido a oportunidade de jogar com jogadores da NBA e de ver o quanto o meu basquete cresceu. Eu ficava sempre pensando: “Será que eu conseguiria jogar? Será que eu me sairia bem?” Então eu tive essa oportunidade e passei de maneira positiva, então foi muito gratificante saber que eu vivi isso tudo.
O que você precisa fazer para se firmar como atleta de NBA?
Meu objetivo é ser um dos brasileiros que os caras olham e se espelham. Como Varejão, Thiago Splitter, Leandrinho, Raulzinho, Nenê... São caras que ficaram muito tempo na liga de maneira expressiva. Então o meu objetivo é um dia estar junto desses caras. E o que eu acredito que eu tenho que fazer é cumprir o meu papel. Aprendi que na NBA o importante é cada um cumprir o seu papel e é isso o que vou fazer. Lógico que uns têm um papel maior, os super estrelas têm uma responsabilidade maior e o meu papel no momento é ser esse cara que traz energia. Estou treinando bastante, me esforçando bastante, defendendo, pegando rebotes, ajudando todo mundo e atacando também. Eu acredito que tendo esse papel eu posso ter sucesso no Memphis Grizzlies.
Você costuma se aconselhar com esses brasileiros que fizeram sucesso na NBA?
Tive um contato maior com o Thiago Splitter por ter encontrado ele algumas vezes na seleção. Tive também com o Raulzinho, com quem eu joguei junto. Esses aí eu troquei uma ideia maior. Troquei ideias sobre pré-temporada, sobre o que o atleta precisa fazer, o que eles esperam de atletas que vão lá passar a pré-temporada... E eles conseguiram me ajudar bastante. Mas eu queria ter mais oportunidades de interagir com Varejão, Leandrinho e todos eles. Eu adoro aprender, ouvir o conselho de mais velhos e espero um dia estar com eles.
Nos últimos meses, alguns sites noticiaram que algumas equipes do NBB estavam interessadas em você, dentre elas o Flamengo. Como foram as negociações para você jogar no Memphis?
Como estou agora com uma agência americana, essa é uma parte que eu não me envolvo muito. Fico focado só no basquete, em melhorar, em atingir os meus objetivos e essa parte de time eles me passam só as coisas mais concretas. Tive um teste no Chicago Bulls e outro no Milwaukee Bucks. Fiz os dois no final da temporada passada. E tive essa oportunidade de vir para o Memphis também. Acredito que tiveram outros times interessados. Tive alguns convites para jogar Summer League, mas a melhor oferta foi do Memphis. Do Brasil, eu recebi pouca oferta porque a gente está muito focado no mercado americano. O Flamengo chegou a conversar com o meu pai, mas foi uma conversa básica, não foi uma oferta.
Como é a vida em Memphis? Já deu para se adaptar à cidade?
Ainda não deu para ver muita coisa. Estou naquela fase de tirar coisa da mala, ajustar para fuso e correr para o treinamento. Minha esposa está aqui e ajuda a não sentir tanta falta do Brasil. Sinto falta dos meus pais, dos meus irmãos, de estar junto deles. Mas só de ter a minha esposa aqui já ajuda. Não consegui ver muita coisa de Memphis ainda. Só um dia que eu fui a um bingo. Sou um cara bem caseiro, mas espero te contar mais sobre Memphis na mesma conversa (risos). Mas não vou mentir que estou sentindo falta do açaí, do pão de queijo e do pãozinho fresco de manhã do Brasil. Mas essas são coisas que eu vou ter que aprender a viver sem.
Espero fazer por merecer estar ali nas próximas seleções, fazendo a passagem de tocha de Marcelinho Huertas e de outros mais experientes.
Na seleção acho que foi legal, porque ninguém esperava nada. Não vou dizer que tinha gente que torcia contra, mas muitos não acreditavam que a gente fosse chegar, mesmo porque três semanas antes das Olimpíadas a gente não tinha nem vaga e nós tivemos que ganhar da Letônia na casa deles. Depois fomos para um grupo com Japão e França e passamos. Só que a gente esperava ir mais longe. Acredito que, se a gente tivesse ido melhor na fase de grupos, nós poderíamos ter ido mais longe. Agora a minha expectativa é grande para a próxima Olimpíada, espero que o Brasil esteja fazendo parte e que eu esteja fazendo parte também. E eu vou sempre lutar pela medalha de ouro, essa é a minha mentalidade.
Você, que tem só 24 anos, se vê numa carreira longa na seleção, jogando pelo menos mais umas duas Olimpíadas?
É o meu sonho. Eu sempre tive o sonho de jogar na NBA, estou com um pezinho na porta, mas a Olimpíada sempre foi um sonho grande para mim, eu representar esse país que amo tanto. O Brasil é pouco respeitado de maneira internacional e também nacional. Eu acho que o Brasil é muito maior do que a gente acha, e eu espero um dia estar fazendo parte da conquista de uma medalha olímpica. Você disse duas Olimpíadas, mas eu quero pelo menos quatro, sendo que cinco seria um sonho distante.
Nos últimos anos, muitos jogadores de ponta viveram um grande dilema, quando eram convocados para a seleção, mas o clube da NBA não os liberava. Como você pretende lidar com essa situação?
Eu entendo que é uma situação bem difícil, principalmente para o clube de ter que liberar o jogador para a seleção e colocar em risco uma pessoa que eles estão pagando. Então eu entendo a posição do clube, mas isso mudou bastante ao longo dos tempos. E mais e mais a gente vê os clubes cedendo atletas para as seleções. Tanto que a NBA tem virado um evento muito global, com os últimos MVPs sendo jogadores estrangeiros, que costumam representar as suas seleções. Então eu acho que cada vez mais a gente tem ganho espaço quanto a isso.
Porque tem uma briguinha da NBA com a Fiba, às vezes as datas batem e quando o clube não libera a gente não tem muito o que fazer. Mas, por mim, sempre que eu puder vou estar fazendo parte da seleção.
O que os torcedores dos Grizzlies e os fãs de basquete podem esperar do Mãozinha para essa temporada?
Os fãs podem esperar de mim o que eu sempre entrego desde o início da minha carreira no basquete. Sou uma pessoa que se esforça ao máximo. Não vai ser todo dia que eu vou conseguir fazer 35 pontos e pegar 17 rebotes. Mas todo dia vou estar lá me esforçando para conseguir isso. Vou estar aqui representando não só um país como a minha família e todos os que me apoiaram nessa caminhada no esporte. E, a cada ano, eu vejo como Deus é bom e pode me entregar mais do que eu imaginava. Estou muito feliz e espero que a gente consiga ser campeão na G-League e na NBA também.
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