É difícil pensar em vôlei italiano e não lembrar de Paola Egonu. Nos últimos anos, a oposta assumiu protagonismo em quadra e conduziu a seleção a conquistas internacionais, como medalhas em Mundiais (prata em 2018 e bronze em 2022) e o bicampeonato da Liga das Nações (2022 e 2024). Neste domingo (11), a atleta garantiu seu lugar no olimpo do esporte ao ganhar o ouro nas Olimpíadas de Paris e ser eleita a melhor jogadora da competição. Todas as glórias, no entanto, vieram depois de muita luta.
Egonu até correu o risco de não disputar as Olimpíadas de 2024. No ano passado, ficou de fora da lista de convocadas para o Pré-Olímpico, competição na qual a Itália teve campanha frustrante, sem garantir vaga em Paris. A Federação Italiana alegou que a ausência da oposta foi uma decisão tomada em "comum acordo", mas eram conhecidos os problemas de relacionamento com o então técnico Davide Mazzanti.
A jogadora também tinha um histórico de enfrentamentos com a Federação da Itália. E a maior parte deles esteve ligada a uma das bandeiras que Egonu carrega: o combate ao racismo. A oposta sempre cobrou posicionamentos firmes da entidade contra manifestações preconceituosas de torcedores. Chegou a dizer que não representaria mais a seleção nacional.
– É sempre uma honra vestir a camisa Azzurra, mas adoraria ter um verão livre para descansar como pessoa. Não quero tirar nenhum mérito ou desrespeitar minhas companheiras, mas toda vez o alvo (de críticas) sou eu. Mentalmente, cheguei ao ponto em que gostaria de ter um verão livre. Há pessoas que me perguntam se sou italiana... Eu me pergunto por que tenho que representar essas pessoas. Coloco minha alma nisso, meu coração. Acima de tudo, não desrespeito ninguém, então dói – disse Egonu, em desabafo após a medalha de bronze no Mundial de 2022.
Nascida em Cittadella há 25 anos, Egonu começou a jogar vôlei perto de casa. Filha de pais nigerianos, a oposta precisou lidar com o preconceito desde jovem. Quando ainda tinha 16 anos e atuava pelo Treviso, viu a torcida rival imitar o som de macacos a cada vez que tocava na bola. Naquele dia, chorou, sem reagir. Mas, aos poucos, conforme ia se firmando entre as melhoras jogadoras do mundo, adotou o combate ao racismo como lema de vida. Passou a sempre manter a cabeça erguida, atacando dentro de quadra ou enfrentando ataques fora dela.
Em 2018, Egonu ainda se tornou alvo de homofobia. Depois de um jogo, beijou a polonesa Katarzyna Skorupa, sua namorada à época. Mais uma vez, lutou contra as ofensas e cobrou respeito.
A postura firme fez com que Egonu se tornasse uma figura cada vez mais conhecida. Chegou a ser apontada como uma das pessoas com menos de 30 anos mais influentes da Europa. E sempre soube conciliar as diferentes facetas que assumiu ao longo da vida.
A participação nas Olimpíadas de Paris só se tornou possível depois de Julio Velasco assumir o comando da Itália, como substituto de Davide Mazzanti. Nascido na Argentina, Velasco tem uma relação de longa data com o vôlei italiano e reintegrou Egonu, em uma decisão que se mostrou acertada. Com a oposta brilhando, as italianas conquistaram o título da Liga das Nações de 2024 e asseguraram a vaga olímpica por meio do ranking mundial (são líderes no momento).
Paris é a terceira edição de Olimpíadas disputada por Egonu, que hoje defende o clube Volley Milano. A atleta iniciou a trajetória nos Jogos ainda aos 17 anos, na Rio 2016. Em solo brasileiro, no entanto, a Itália terminou apenas em nono lugar. Depois, em Tóquio 2020, a seleção europeia ficou na sexta posição.
A consagração veio realmente na capital francesa, que organizou Olimpíadas marcadas pelo protagonismo de mulheres. E a equipe feminina da Itália, ao conquistar sua primeira medalha nos Jogos, foi a responsável por encerrar um jejum do país, que nunca tinha subido ao lugar mais alto do pódio olímpico no vôlei de quadra.
Autora de 22 pontos contra os Estados Unidos, na decisão, Egonu foi MVP das Olimpíadas de Paris e a segunda maior pontuadora da competição. As 110 bolas derrubadas ao longo do torneio colocam a italiana empatada com Gabi no ranking. A liderança ficou com a turca Melissa Vargas, que marcou 159 pontos no total.
Dona de muitas honrarias individuais Egonu se acostumou a brilhar. Um brilho que combina muito com a medalha dourada que a jogadora ganhou nas Olimpíadas e guardará com carinho a partir de agora.
Sensação
Vento
Umidade