Lance de Sorte
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SURFE

Longe da agitação de Paris, o bucólico e exuberante vilarejo de Teahupoo é palco do surfe

Vilarejo no sudoeste do Taiti tem clima bucólico e é habitado majoritariamente por surfistas, pescadores e trabalhadores locais. Cachorros e gatos costumam circular na área de competição

05/08/2024 16h28
Por: Redação
Fonte: GloboEsporte.com

Bem longe do agito de Paris há uma disputa olímpica com características peculiares. Ao invés de concorridas provas em estádios lotados, arenas modernas ou nos diversos palcos montados às margens do Rio Sena, o surfe é realizado em lugar de clima bucólico. Palco da modalidade nos Jogos Olímpicos deste ano, Teahupoo, no Taiti, tem todos os ingredientes de uma cidade de interior. O local de competição fica dentro de um vilarejo com ruas de terras e muitos animais circulando entre atletas, jornalistas e demais credenciados.

A chamada para o final day do surfe acontece nesta segunda-feira às 14h (7h no Taiti). A previsão é que o evento comece às 17h (10h locais) com as disputas das semifinais masculina e feminina, seguidas das respectivas decisões por medalhas. O Brasil vai em busca do pódio com Gabriel Medina e Tatiana Weston-Webb.

- Teahupoo é a minha onda predileta, só isso é o que eu posso falar sobre esse lugar. O Taiti tem uma coisa mágica, de envolver o surfista e eu estou muito confiante em conseguir um grande resultado nessas finais - comentou Gabriel Medina.

Gabriel e os demais surfistas brasileiros estão hospedados em uma casa alugada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) dentro do vilarejo de Teahupoo. O imóvel fica a alguns metros da zona mista dos jornalistas. Bem à frente, há uma marina para os surfistas embarcarem para o alto mar. Como a onda de Teahupoo quebra numa bancada a 500 metros da costa, os surfistas são levados de jet-ski até o pico.

Há também diversos barcos para a imprensa acompanhar as baterias de perto. Fotógrafos, cinegrafistas e demais profissionais de mídia têm acesso livre para irem e voltarem das embarcações. Em terra firme é muito comum aparecerem cachorros e gatos na área de imprensa.

- Frequento Teahupoo desde 2000. Isso aqui sempre foi um paraíso, um lugar de enorme conexão com a natureza e altas ondas. Não há muitas palavras para descrever isso aqui - elogiou o treinador-chefe da seleção brasileira, Paulo Moura.

Clima bucólico

 

Teahupoo está localizada no final da rodovida principal que corta o Taiti. Por conta disso, o apelido do lugar é "End of the road" (Fim da estrada). O vilarejo olímpico fica a cerca de 1h30 de carro da capital Papete. Para entrar em Teahupoo, os credenciados precisam atravessar uma ponte, erguida sobre a foz de um rio. Ali há uma primeira revista. Só credenciados e moradores podem prosseguir.

Adentrando pelas ruas de terra do vilarejo, os jornalistas costumam cruzar com moradores e muitos animais soltos. É comum ver crianças brincando e pessoas jogando altinha no caminho para a área de imprensa. Antes de chegarem à zona mista, os jornalistas passam por uma segunda revista. Há uma pequena vila de atletas com serviços como academia, massagem e área de relaxamento. A sala de imprensa fica bem mais à frente, depois das marinas.

Não há muitos veículos cobrindo o surfe das Olimpíadas. Além das mídias oficiais do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da OBS (detentora das transmissões), há mais um canal brasileiro, um canal australiano, um canal taitiano, um canal americano e mais alguns jornalistas credenciados como mídia impressa.

Polinésia Francesa turística

 

Se Teahupoo é o destino preferido dos surfistas, os demais lugares da Polinésia Francesa se destacam pelo turismo. No Taiti, a principal ilha polinésia, as praias das regiões nordeste e noroeste são propícas para o turismo. Além disso, na capital Pepete há diversas embarcações saindo para as mais de 100 ilhas da região.

Um dos destinos mais procurados é a vizinha Moorea. Localizada a 30 minutos do principal porto de Papete, a ilha abriga muitos resorts, a maioria com chalés e cabanas dentro da praia. Há praias privativas e públicas. É possível ir de carro do Taiti a Moorea, já que há balsas para transportar os veículos.

As águas das praias de Moorea impessionam pela cor. A água possui temperatura morna e quase não há ondas, o que favorece as práticas de caiaque, canoa e stand up paddle. Mergulho de snorkel também é uma das atividades mais preferidas dos visitantes.

 

Testes nucleares

 

Mas nem tudo são flores na Polinésia Francesa, em especial no Taiti. Durante três décadas - entre os anos 1960 a 1990 -, a França realizou diversos testes nucleares nos atois de Moruroa e Fangataufa, ambos a 1.500 metros do Taiti. Embora os governos franceses à época alegassem que tais testes eram seguros, estudos posteriores revelarem que boa parte da população foi contaminada pela radiação.

Atual prefeita de Teahupoo, Roniu Tupana perdeu a irmã gêmea e um outro irmão, vítimas de câncer provocado pela radição.

- Perdi a minha irmã há sete meses. Foi a segunda pessoa da minha família que morreu. Eu também já havia perdido um irmão. Os exames mostraram que os dois foram vítimas da radiação - disse Roniu.

Apesar da crise diplomática com a França, a líder taitiana jamais se opôs à realização do surfe olímpico no Taiti. A reaproximação definitiva aconteceu em 2021, quando o presidente francês, Emmanuel Macron, visitou a Polinésia e reconheceu que o país tinha uma "dívida" com a colônia.

- Não se pode misturar as coisas. Os Jogos Olímpicos são importantes para o Taiti. Só que não podemos esquecer que ainda há uma luta por reparação - ponderou a prefeita.

 

Por fim, Roniu Tupana espera que a comunidade do Taiti continue com a mesma atmosfera mesmo com os impactos dos Jogos Olímpicos.

- Acho que esse grande show vai passar e a comunidade vai continuar com essa mana, que é como os taitianos chamam essa energia. Só vale lembrar que nenhuma medalha de ouro vai trazer de volta quem se foi - concluiu.