- Teahupoo é a minha onda predileta, só isso é o que eu posso falar sobre esse lugar. O Taiti tem uma coisa mágica, de envolver o surfista e eu estou muito confiante em conseguir um grande resultado nessas finais - comentou Gabriel Medina.
Gabriel e os demais surfistas brasileiros estão hospedados em uma casa alugada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) dentro do vilarejo de Teahupoo. O imóvel fica a alguns metros da zona mista dos jornalistas. Bem à frente, há uma marina para os surfistas embarcarem para o alto mar. Como a onda de Teahupoo quebra numa bancada a 500 metros da costa, os surfistas são levados de jet-ski até o pico.
Há também diversos barcos para a imprensa acompanhar as baterias de perto. Fotógrafos, cinegrafistas e demais profissionais de mídia têm acesso livre para irem e voltarem das embarcações. Em terra firme é muito comum aparecerem cachorros e gatos na área de imprensa.
- Frequento Teahupoo desde 2000. Isso aqui sempre foi um paraíso, um lugar de enorme conexão com a natureza e altas ondas. Não há muitas palavras para descrever isso aqui - elogiou o treinador-chefe da seleção brasileira, Paulo Moura.
Teahupoo está localizada no final da rodovida principal que corta o Taiti. Por conta disso, o apelido do lugar é "End of the road" (Fim da estrada). O vilarejo olímpico fica a cerca de 1h30 de carro da capital Papete. Para entrar em Teahupoo, os credenciados precisam atravessar uma ponte, erguida sobre a foz de um rio. Ali há uma primeira revista. Só credenciados e moradores podem prosseguir.
Adentrando pelas ruas de terra do vilarejo, os jornalistas costumam cruzar com moradores e muitos animais soltos. É comum ver crianças brincando e pessoas jogando altinha no caminho para a área de imprensa. Antes de chegarem à zona mista, os jornalistas passam por uma segunda revista. Há uma pequena vila de atletas com serviços como academia, massagem e área de relaxamento. A sala de imprensa fica bem mais à frente, depois das marinas.
Não há muitos veículos cobrindo o surfe das Olimpíadas. Além das mídias oficiais do Comitê Olímpico Internacional (COI) e da OBS (detentora das transmissões), há mais um canal brasileiro, um canal australiano, um canal taitiano, um canal americano e mais alguns jornalistas credenciados como mídia impressa.
Polinésia Francesa turística
Se Teahupoo é o destino preferido dos surfistas, os demais lugares da Polinésia Francesa se destacam pelo turismo. No Taiti, a principal ilha polinésia, as praias das regiões nordeste e noroeste são propícas para o turismo. Além disso, na capital Pepete há diversas embarcações saindo para as mais de 100 ilhas da região.
Um dos destinos mais procurados é a vizinha Moorea. Localizada a 30 minutos do principal porto de Papete, a ilha abriga muitos resorts, a maioria com chalés e cabanas dentro da praia. Há praias privativas e públicas. É possível ir de carro do Taiti a Moorea, já que há balsas para transportar os veículos.
As águas das praias de Moorea impessionam pela cor. A água possui temperatura morna e quase não há ondas, o que favorece as práticas de caiaque, canoa e stand up paddle. Mergulho de snorkel também é uma das atividades mais preferidas dos visitantes.
Mas nem tudo são flores na Polinésia Francesa, em especial no Taiti. Durante três décadas - entre os anos 1960 a 1990 -, a França realizou diversos testes nucleares nos atois de Moruroa e Fangataufa, ambos a 1.500 metros do Taiti. Embora os governos franceses à época alegassem que tais testes eram seguros, estudos posteriores revelarem que boa parte da população foi contaminada pela radiação.
Atual prefeita de Teahupoo, Roniu Tupana perdeu a irmã gêmea e um outro irmão, vítimas de câncer provocado pela radição.
- Perdi a minha irmã há sete meses. Foi a segunda pessoa da minha família que morreu. Eu também já havia perdido um irmão. Os exames mostraram que os dois foram vítimas da radiação - disse Roniu.
Apesar da crise diplomática com a França, a líder taitiana jamais se opôs à realização do surfe olímpico no Taiti. A reaproximação definitiva aconteceu em 2021, quando o presidente francês, Emmanuel Macron, visitou a Polinésia e reconheceu que o país tinha uma "dívida" com a colônia.
- Não se pode misturar as coisas. Os Jogos Olímpicos são importantes para o Taiti. Só que não podemos esquecer que ainda há uma luta por reparação - ponderou a prefeita.
Por fim, Roniu Tupana espera que a comunidade do Taiti continue com a mesma atmosfera mesmo com os impactos dos Jogos Olímpicos.
- Acho que esse grande show vai passar e a comunidade vai continuar com essa mana, que é como os taitianos chamam essa energia. Só vale lembrar que nenhuma medalha de ouro vai trazer de volta quem se foi - concluiu.