Neste domingo (21) começam os treinos oficiais em Teahupoo, local escolhido pela International Surfing Association e pelo Comitê Olímpico Internacional para receber o surfe nos Jogos Olímpicos de 2024. Como em Tóquio, o Brasil chega forte, com nomes entre os favoritos, tanto no masculino quanto no feminino.
O time brasileiro, formado por Filipe Toledo, João Chianca, Gabriel Medina, Tatiana Weston-Weeb, Tainá Hinckel e Luana Silva, contará com uma estrutura de apoio exclusiva montada pelo COB. A mesma casa já usada nos treinamentos antes e durante as etapas do CT será o QG do Brasil no Taiti, com equipamento de preparação física, fisioterapia e atendimento médico. A alimentação será feita por pessoas da comunidade, com base no cardápio montado pela nutricionista do COB, que esteve lá anteriormente. Além disso, haverá um lounge para descanso e provavelmente interação com familiares, que não serão credenciados como staff e terão acesso restrito a determinadas áreas.
No meu próximo texto, vou fazer a tradicional apresentação da competição, com análise de baterias e principais candidatos, mas agora darei à palavra a Paulo Moura, vice-presidente e diretor esportivo da CBSurf e técnico da equipe brasileira.
Surfista de respeito em ondas grandes, Moura integrou a elite do Circuito Mundial por muitos anos, já competiu várias vezes em Teahupoo e tem muita experiência nesta que é considerada uma das ondas mais perigosas do mundo. Foi, inclusive, um dos primeiros brasileiros a tirar uma nota 10 lá em bateria quase perfeita contra Mick Fanning (fez 19,40 pontos), em 2005, quando terminou em quinto lugar. O treinador admite que Gabriel e Tati são os nomes mais fortes, mas afirma que Teahupoo é uma onda onde tudo pode acontecer.
- No fundo, parece que Teahupoo sempre escolhe seus campeões - diz ele.
- Você sempre se destacou por ser ótimo surfista em ondas grandes e tubulares, além de ter bastante experiência em Teahupoo. Conte-me um pouco sobre sua relação com esta onda.
- É um lugar especial. Competi lá seis anos na época do WCT. Sempre foi uma onda muito especial para mim. Eu morei no Taiti um tempo, tive um relacionamento lá. Com certeza é um lugar que me identifico muito e tenho conhecimento. Já fiz ótimas baterias. Tenho realmente uma boa experiência e afinidade com esta onda.
- Como estava o mar durante os treinos realizados pela equipe antes da última etapa do CT?
- Nosso camping realizado antes do CT foi um sucesso, com ondas de qualidade. Surfamos um bom swell logo no começo e depois as condições ficaram regulares, mas nosso treinamento continuou durante e depois do evento e conseguimos realizar ótimas sessões, inclusive no dia após o fim da competição, com um mar clássico. Nosso camping contou com todos os atletas, alguns durante todo o tempo e outros em parte do período, mas o melhor de tudo foi em relação à construção de uma equipe brasileira. A CBSurf, em parceria com o COB, está conseguindo construir um espírito de equipe, de representação de um país. E juntar toda a equipe, os atletas e os oficiais, nos treinamentos, no dia a dia de todas as atividades, de treinamento físico, fisioterapia, atendimento médico, criando um ambiente muito bom de uma equipe brasileira.
- Você poderia falar sobre as chances de cada um dos surfistas do Brasil? Pelos números e retrospecto, Medina é sempre apontado como um ou talvez o maior favorito lá, mas como chegam Filipe e João?
- As chances para mim são sempre iguais. Com certeza, todos os atletas classificados têm chances iguais no que diz respeito a terem as mesmas oportunidades. Ao olhar os números, a gente enxerga o Gabriel como um dos favoritos porque ele é um dos maiores campeões de Teahupoo, conhece muito a onda. Ele repete as performances, ano após ano, e isso mostra consistência, o que é muito importante. O João eu vejo como um dos grandes surfistas de Teahupoo. Pega as ondas mais pesadas, entuba muito bem, tem muita técnica. A gente precisa ver ele levar a técnica do free surf para as baterias e o coloco como um surfista com chances de conseguir um grande resultado em Teahupoo. Voltou muito bem do seu acidente em Pipeline e acho que está ainda melhor, tanto tecnicamente quanto fora d’água, mais centrado, mais calmo. Digo que é um dos favoritos. Filipe Toledo é um bicampeão mundial, um atleta que tem muita estrela, muita técnica. Ainda não teve os resultados esperados no Taiti, mas é um do atleta campeão. E um atleta que é campeão é um atleta que sabe ganhar. Tenho certeza de que ele vai fazer uma grande olímpiada e lutar por medalha.
- No feminino, Tati também chega entre os principais nomes, principalmente depois da performance na etapa do CT. Concorda? Luana e Tainá, por outro lado, nunca tinham surfado em Teahupoo antes do surf camp deste ano e têm bem menos experiência. Como as vê na disputa?
- A Tati com certeza é o nosso grande nome no feminino. É uma atleta muito completa e testada em Teahupoo. No nosso camping ela foi muito bem e no evento fez uma bateria que entrou para a história do surfe feminino, poderia ter sido a final, até um possível ensaio para uma final olímpica, contra a local Vahine Fierro. Fez uma nota dez e não se destacou somente pela nota, mas pela forma de atacar a bateria, num mar grande, fazendo aquela onda impressionante precisando de um dez para virar. A coloco como uma das favoritas, ao lado de outras atletas, como a Vahine, mas com certeza é nossa maior aposta.
- A falta de experiência em Teahupoo pode pesar contra Tainá e Luana?
- A Tainá e a Luna estrearam em Teahupoo no nosso camping. Começaram um pouco tímidas, o que é normal, pois é uma onda muito intimidadora, mas durante nossos treinos, nossas conversas, elas foram se soltando e ao final do treinamento estavam pegando boas ondas, entubando. Este treino oficial agora vai dar uma segunda experiência, que pode deixá-las um pouco mais soltas. Teahupoo é um lugar que tudo pode acontecer. Eu sempre falo para os atletas que ali a gente não escolhe fazer um show, o foco é passar a bateria. Apesar de ser aquela onda clássica, que vemos em fotos e vídeos impressionantes, lá rola todo tipo de onda. Já competi com ondas muito pequenas, onde não é mais sobre o melhor tubo, mas sim sobre escolher a onda certa. Já vi até campeonato acontecer em manobras. Tenho certeza de que a Tainá e a Luana têm muito a oferecer nos Jogos, principalmente se mantiverem a cabeça focada no que precisa ser feito. Não ficar sob a pressão de pegar um tubão perfeito, a onda da vida, mas pensar no que é necessário naquela bateria.
- Por último, para você, quais são os principais candidatos às medalhas no masculino e no feminino?
- Não temos como fugir dos surfistas quem têm grandes performances no Taiti, como Jack Robinson, Jhon Jhon Florence, Gabriel Medina, entre outros nomes que estão num bom momento, como Griffin Colapinto, Leo Fioravante, que surfam muito bem essa onda. Lógico que não podemos esquecer os locais. Kauli Vaast é um dos grandes atletas locais e vai abrilhantar esse show e essa disputa por medalhas. No feminino também temos excelentes atletas e coloco a Tati como uma das grandes favoritas às medalhas. Temos a Molly Picklun, a Caitlin Simmers, a Vahine, a Tyler Wright, todas com chances. É um pelotão de favoritos, tanto no masculino quanto no feminino, mas Teahupoo é uma onda que o resultado está sempre em aberto. Ela é muito imprevisível, pode estar grande, pequeno, com vento menos ou mais favorável. O importante é ter a humildade da construção do resultado, muita sabedoria na escolha das ondas. Teahupoo é também um lugar místico, tem muita energia, que lá eles chamam de Mana. Eu convivi com isso intensamente e temos de captar esta Mana, porque, no fundo, Teahupoo parece sempre escolher o seu campeão. Tomara que essa escolha seja pelo nosso time brasileiro, que é formado por atletas muito guerreiros, para brigar por medalhas.
Sensação
Vento
Umidade